Como é dormir em um refúgio de montanha
Já pensou em dormir no meio da montanha, em um lugar onde você só consegue chegar andando por quilômetros, imerso na natureza e desfrutando de um silêncio que você dificilmente encontraria em outros lugares? Pois é! Experiências como essas são únicas e você precisa passar por isso pelo menos uma vez na vida! Na Patagônia há várias opções, mas no Brasil você também pode encontrar refúgios e abrigos em alguns parques nacionais, como o abrigo Rebouças no Parque Nacional do Itatiaia. Em Bariloche eu tive o prazer de conhecer dois dos principais refúgios que ficam ali pelas redondezas - o Frey e o Otto Meiling, - e vou contar um pouco sobre essas experiências.
Para chegar a ambos, é preciso vencer um bom desnível de cerca de 1000m, e em boa parte do ano você precisará andar na neve na parte final. A trilha para o Frey começa na Villa Catedral (onde fica a principal estação de esqui de Bariloche), e logo a vista abre para então você contemplar o Lago Gutierrez por uma parte do caminho. Depois você entra em um bosque e caminha bastante por ele, mas no trecho final já é possível observar mais das montanhas nevadas, que estão bem próximas. Já o Otto Meiling fica aos pés do Cerro Tronador, e a trilha começa em uma espécie de vilinha dentro do Parque Nahuel Huapi, chamada de Pampa Linda. Uma boa parte da subida é por dentro de um bosque lindo, sendo que em alguns momentos dá para ver uns paredões de pedra gigantescos, com glaciares em cima jorrando muita água para baixo - uma das vistas mais bonitas que eu tive em Bariloche. Saindo do bosque, você estará em uma parte bem aberta e alta, podendo enxergar o vale da Pampa Linda embaixo, e diversas montanhas da Cordilheira ao seu redor. Lá no fundo já estará o refúgio Otto Meiling, e logo atrás dele o imponente pico do Cerro Tronador.
Os dois refúgios ficam localizados em paisagens bem distintas. O Frey fica na beira da laguna Toncek, enfiado em um pequena clareira no meio das montanhas, com picos nevados e rochas gigantescas bem próximas e rodeando todo o ambiente. Já o Otto Meiling fica em uma área bem aberta, com uma vista panorâmica e praticamente 360º de vários cumes da região, sendo um deles o Tronador com seus 3500m.
Depois de uma longa trilha e de contemplar o maravilhoso ponto de chegada, é hora de conhecer melhor o refúgio em si. No geral as acomodações são bem rústicas. O Frey comporta cerca de 40 pessoas, em um quarto não muito grande e com camas literalmente grudadas umas nas outras. Há um colchão, mas é necessário levar saco de dormir (ou até alugar por lá). No Otto Meiling a capacidade é maior (aproximadamente 80 pessoas), com um espaço grande de beliches dividido em vários ambientes. Nos dois refúgios, a área de dormir fica na parte superior. Apesar da simplicidade, as comidas servidas são maravilhosas! Tudo é caseiro (nem tem como não ser!) e feito na hora. Você vai comer pizzas e pães deliciosos, massas, sopas, doces… Em novembro de 2023, no Otto Meiling saía cerca de R$50 uma refeição - relativamente caro para os padrões argentinos, mas bem justo considerando a dificuldade de acesso do refúgio. Se quiser economizar, é possível pagar somente pela acomodação, e levar a sua própria comida. Se quiser economizar ainda mais, dá pra levar a sua barraca e acampar nas áreas de camping ao redor do refúgio - às vezes sem nem pagar nada!
A comida excelente é preparada pela equipe que fica lá - e que trabalham em esquema de rodízio. Ficam de uma a duas semanas lá em cima, e depois trocam com outras pessoas. A administração funciona por concessão - portanto as equipes são contratadas por empresas privadas. O transporte das comidas é feito por eles mesmos, ou até por outras pessoas que são contratadas somente para isso. Em alguns casos é possível chegar mais próximo de moto ou a cavalo. A energia pode ser solar, ou até gerada por uma mini hidrelétrica. Mas de qualquer forma a disponibilidade é bem limitada - não havendo chuveiros elétricos e nem tomadas nos quartos para carregar celular. Água não falta nesses lugares! Há pequenas tubulações que trazem água dos rios, e os dejetos são liberados em fossas ecológicas.
É bem trabalhoso manter essa estrutura funcionando! Mas quer saber? Vale muito a pena! Ver o entardecer no meio da montanha, acompanhar o céu escurecendo e ficando mega estrelado, dormir com um silêncio que não estamos acostumados… e ainda tem a parte social! Como todos os espaços são compartilhados, será fácil fazer amigos e ter conversas interessantes.
Escrever esse texto já me deixou morrendo de vontade de planejar minha próxima noite em um refúgio de montanha… alguém aqui vai querer acompanhar essa aventura com o pessoal do Vida na Montanha? Chama a gente pra conversar!
Matheus Balceiro
Líder de expedição